À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

13/01/2011

Dependências

O défice da balança comercial de bens alimentares cresceu 23% na última década, com pormenores desastrosos: por exemplo, Portugal deixou de produzir beterraba sacarina – pelo que agora importa todo o açúcar que consome –, enquanto aumentou substancialmente a importação de bens essenciais como a carne bovina (quase toda vinda do exterior, actualmente), a carne de aves e de porco, que passou também a necessitar de uma cada vez mais larga fatia de fornecimento estrangeiro, mais os cereais, cuja importação generalizada ascende, actualmente, a mais de 60%. Globalmente, a situação é ainda mais desastrosa: há 30 anos importávamos cerca de 30% das nossas necessidades alimentares, hoje a situação é diametralmente oposta – importamos 70% e produzimos 30% do que consumimos...
É aqui que começa a grande pobreza do País – mas, com esta, não está Cavaco Silva preocupado. É natural: afinal de contas, foi ele que iniciou o desmantelamento do aparelho produtivo nacional, a começar pela agricultura e continuando pelas pescas e a indústria, cumprindo os ditames da União Europeia. A mesma que agora nos quer estrangular com o défice, após nos ir desapossando dos meios para o combater...

Repentinamente...

Repentinamente, surde um boato – ou «rumor», como se diz em economês – antevendo a entrada do FMI no nosso País. A coisa começou numas notícias manhosas postas a circular pelo jornal alemão Der Spiegel, de imediato coadjuvado pela France Presse, todas dando por «eminente» o «pedido de auxílio» do Portugal e sugerindo que os governos da Alemanha e da França seriam os grandes promotores da ideia. Apesar de os referidos governos desmentirem de imediato tais pressões, o boato fez o seu caminho e encontrou aplicados entusiastas da ideia cá pelo burgo, todos opinando que «é inevitável» e alguns já se atrevendo a sugerir que até será «desejável».
Só não dizem desejável para quem. Em primeiro lugar, para o grande patronato português, que vê na tal entrada do FMI uma reforçada oportunidade para desarticular, em definitivo, os mecanismos de luta e de reivindicação dos trabalhadores portugueses. Em segundo lugar, o Governo do PS e quem lhe cobiça o poleiro, o PSD, que já matutam nas vantagens de impor novos e ainda mais violentos sacrifícios aos portugueses sob o pretexto redentor de que «é o FMI que manda».
Aos trabalhadores, ao povo e ao País é que a vinda do FMI não interessa nada. Com toda a certeza.

Não pára

Entretanto, continuam os cortes governamentais sob o pretexto de combater o défice. Agora são os tribunais, hospitais e lojas do cidadão a ficarem desapossados de mais uma fatia de efectivos de segurança privada que garantem a vigilância destas instalações e serviços estatais. De imediato, os funcionários públicos manifestaram fundados receios de que, com mais esta redução no pessoal da segurança, a violência dispare ainda mais nas instalações, enquanto os responsáveis destas empresas alertam para o perigo de despedimentos no sector, directamente relacionados com estes cortes governamentais.
O Governo de Sócrates não pára. Não pára de afundar o País e os portugueses. 

http://www.avante.pt/pt/1937/argumentos/112150/

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